sábado, 30 de maio de 2015

Os investigadores do manguezal


Os pequenos visitaram o berçário de diversas espécies e descobriram como preservá-lo
 


    Nos arredores do CEI Odorico Fortunato, em Joinville, a 186 quilômetros de Florianópolis, o chão é úmido e coberto por uma baixa vegetação, que revela buracos por onde saem pequenos e velozes caranguejos. Mais alguns passos e a terra dá lugar a um corredor de água margeado por árvores de caule fino e folhas verdes onde diversos pássaros param para descansar. Essa é a paisagem que Kayky Gabriel da Silva Sobral, 6 anos, vê quando observa o manguezal. Antes de participar do projeto desenvolvido pela professora Paula Aparecida Sestari, ele e seus colegas não prestavam muita atenção no espaço ao lado da escola, visto como um lugar sujo e malcheiroso em que os moradores do bairro jogavam lixo.

    "Queria mudar esse olhar e chamar a atenção das crianças para a importância desse ecossistema tão próximo", conta a educadora. Depois de conversar com os pequenos e coletar depoimentos deles sobre o manguezal, a docente formulou um questionário destinado aos pais. A devolutiva mostrou que muitos não sabiam explicar o que era aquele espaço, nem conheciam sua ligação com a Baía da Babitonga - a porção de mar rodeada por terra em que desemboca o braço de rio ao lado da escola. A relação deles com o ecossistema era puramente predatória, ligada à extração do caranguejo e à pesca, o que reforçou a necessidade de abordar o tema com a meninada.

    Para explorar o lugar, as crianças foram até ele mais de uma vez. Inicialmente, a professora as convidou a observar os sons, a cor da água e os animais que apareciam nas margens. Com o tempo, elas passaram a desenhar tudo o que viam nas visitas. "A tarefa permite identificar a utilidade do registro como memória e instrumento de comunicação das experiências vividas", aponta Telma Vitória, professora de Fundamentos da Educação Infantil da Universidade Federal de Alagoas (Ufal). Outras possibilidades de guardar as impressões de lugares fora da escola é disponibilizar máquinas fotográficas. Ou o professor, na condição de escriba, escrever as observações narradas pelos meninos e meninas.

    Em sala, Paula destacou a ligação entre o local nos fundos da instituição e a natureza da região, mostrando uma foto do prédio do CEI tirada do alto. A imagem revela o manguezal ao redor e uma faixa de mar, que logo saltou aos olhos. "Tem uma praia aqui perto?", perguntou um dos meninos. A educadora explicou que a porção de água vista por eles era a Baía da Babitonga, o encontro do rio com o mar. Para complementar, levou mapas e fotos antigas e recentes do lugar.

    Quando perguntados sobre os animais típicos da região, os pequenos citavam apenas o caranguejo. Para ampliar o repertório deles, Paula leu alguns exemplares da revista
Menino Caranguejo, organizada pelo Instituto Caranguejo de Educação Ambiental, que contêm histórias em quadrinhos sobre a fauna encontrada em ambientes costeiros brasileiros. Além do material, a turma teve acesso a fotos e textos com informações sobre a saracura-do-banhado, o jacaré-de-papo-amarelo e a tartaruga marinha, entre outros.

    A atividade foi complementada com pesquisas feitas pelas próprias crianças, que manuseavam os materiais, procuravam imagens nas revistas e livros disponíveis e pediam para a professora ler e confirmar se era mesmo o que buscavam. Essa etapa mostra que a pesquisa não é exclusividade de quem já sabe ler. Encorajar os pequenos a buscar informações em livros e revistas é uma das formas de familiarizá-los com textos informativos. Assim, eles ampliam o leque de gêneros textuais conhecidos. "É importante selecionar informações e diferenciar o que está dito do que se imagina", aponta Maria Virgínia Gastaldi, formadora do Instituto Avisa Lá. "Assim, as crianças aprendem a distinguir os conteúdos e conhecem outro gênero além da ficção, que tem o seu papel, mas não precisa ser o único explorado na Educação Infantil", complementa ela.

    Depois da leitura, houve uma roda de conversa sobre o manguezal e seus habitantes. "Vimos que todos os bebês precisam de cuidado, os humanos e os animais. Os filhotes de várias espécies, principalmente peixes, têm nesse ambiente um lugar privilegiado de desenvolvimento graças ao material orgânico disponível", conta Paula.

    A turma discutiu também o prejuízo que a sujeira causa à natureza. Com o depósito de lixo, o lugar fica poluído, a fauna sofre as consequências e passa a correr risco de extinção. A meninada, então, produziu uma maquete de como seria o manguezal ideal, com a argila substituindo o solo, todo limpinho e povoado de borboletas, caranguejos e pássaros de papel (leia a entrevista abaixo sobre como fazer projetos de meio ambiente).

Entrevista



Andrée de Ridder Vieira, consultora em Educação pela sustentabilidade e coordenadora geral do Instituto Supereco

O que caracteriza um bom projeto de meio ambiente? Ele tem de abordar os conteúdos curriculares e colar isso à realidade local e às pessoas. É preciso definir objetivos relativos às necessidades do entorno e ações que provoquem mudanças no olhar e no comportamento dos estudantes.

Quais os erros mais comuns? Entre os problemas, destaca-se fazer campanha sobre preservação do meio ambiente sem analisar a situação; pesquisar na internet, não checar em fontes seguras e passar informações erradas à classe; e não relacionar o tema à realidade da turma. Outro equívoco recorrente é não desenvolver projetos, alegando falta de recursos. O meio ambiente está na escola e o principal insumo é o entorno.

 Referência bibliográfica:

 Postagem de Aparacida Donizeti  de Morais

 

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